outras mulheres (maria lourenço gomes) |
MARIA LOURENÇO GOMES
Dra. Maria Gomes foi uma das primeiras sanjoanenses a se tornar médica, enfrentando todos os preconceitos existentes na época, com relação à participação das mulheres nesta tão nobre profissão. Dra. Maria Lourenço Gomes nasceu em São João da Boa Vista no dia 25 do mês de março de 1922, em uma propriedade rural de sua família. Era filha do senhor Manoel Lourenço Gomes e de Dona Maria Almenara Gomes. Teve sete irmãos: Isaura Lourenço Gomes que se casou com Hélio Aversi; Elvira Aparecida Lourenço Gomes que se casou com Delvo Vallim Ferreira; Helena Lourenço Marinho que se casou com Ialdacyr Lima Marinho; Hélio Lourenço Almenara que se casou com Maria Doracy Martarello e Manoel Lourenço Gomes Filho que se casou e com Helena Alves Gomes. Assim que completou sua formação prestou o vestibular para medicina, sendo aprovada na Escola Paulista de Medicina (hoje Universidade Federal de São Paulo), fundada em 1933. Formou-se no ano do IV Centenário de São Paulo, em 1954. Entre os anos de 1954 e 1958 realizou estágio na Segunda Clínica Médica do Hospital São Paulo, da Escola Paulista de Medicina, tendo sido assistente do Dr. José Antônio Gebara. No período de janeiro a maio de 1958, em São Paulo, realizou estágio no Serviço de Obstetrícia e Ginecologia na Casa Maternal e da Infância “Leonor Mendes de Barros”. Em 1958 passou para a divisão do Serviço de Tuberculose da Secretaria de Saúde, com exercício no Dispensário de Tuberculose de Casa Branca, e pode então retornar para sua terra natal. Em fins da década de cinqüenta, quando começou a trabalhar em Casa Branca, montou seu consultório, junto à sua residência na rua Gabriel Ferreira, número 73, em São João da Boa Vista, onde dava atendimento no período da tarde, pois no período da manhã trabalhava no Dispensário em Casa Branca A princípio viajava de ônibus de São João da Boa Vista para Casa Branca, até que em 1960 tirou sua habilitação para guiar. Passou então, a enfrentar as estradas, que na época eram de terra, com muito trânsito de caminhões. Era um verdadeiro sufoco ultrapassar em alguns trechos, com muitas curvas na estrada até Vargem Grande do Sul, além da poeira e do barro na ocasião das chuvas. Era esta sua rotina todos os dias. Em 1960 foi credenciada com médica do INPS (Instituto Nacional da Previdência Social), na Secretaria dos Industriários (IAPI), prestando serviços no Posto de Assistência Médica da Agência de São João da Boa Vista, e foi se dedicando mais a este serviço diminuindo o atendimento no consultório particular. Em 1965 criou-se, por Decreto, o Dispensário de Tuberculose de São João da Boa Vista. Foi então, transferida de Casa Branca para sua terra natal, a fim de providenciar junto à Prefeitura, o prédio e móveis onde pudesse ser instalado o dispensário recém criado da cidade, que foi instalado em um prédio no largo da Estação Ferroviária e foram nomeados funcionários que foram treinados para trabalhar nas seguintes funções: um operador de raio-X, um técnico de laboratório, um escriturário, dois visitadores sanitários, três atendentes e um servente. O aparelho de raio-X veio do Dispensário de Casa Branca e o material de laboratório veio da divisão do Serviço de Tuberculose, da Secretaria de Saúde de São Paulo. Em 1966 foi efetivada no Quadro de Pessoal, como médica do INPS, na Secretaria dos Industriários (IAPI). No ano seguinte prestou serviços no Posto de Assistência Médica do antigo SANDU (Serviço de Assistência Médica e Domiciliar de Urgência). Em 1968 foi indicada pelo Conselho Superior de Saúde Pública de São Paulo para realizar um curso de Pós-Graduação em Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Conseguiu afastamento do INPS por um ano, sem prejuízo dos vencimentos e demais vantagens do cargo. O referido curso teve início no dia 5 de fevereiro de 1968 estendendo-se até 20 de dezembro do mesmo ano. Terminado o estudo participou da execução da Carta Sanitária do Município de Matão (SP), com a equipe multiprofissional constituída por: cinco médicos, um administrador hospitalar, três engenheiros, dois farmacêuticos, três dentistas, dois químicos, um cientista social e dois educadores sanitários. A partir de 1970, como médica sanitarista, passou a trabalhar em regime de dedicação exclusiva na Chefia do Distrito Sanitário de São João da Boa Vista, supervisionando os centros de saúde dos seguintes municípios: Aguaí, Águas da Prata, Divinolândia, Espírito Santo do Pinhal, São João da Boa Vista e Vargem Grande do Sul. Para a supervisão de todos esses Centros de Saúde o Distrito Sanitário recebeu uma viatura e um motorista. Posteriormente, passou a contar também com uma enfermeira. Esse Distrito Sanitário era o elemento básico para a coordenação e supervisão das atividades dos Centros de Saúde. Nas visitas a equipe distrital visava o treinamento, o preparo de pessoal para o desenvolvimento das atividades realizadas pelo Centro de Saúde, assistência à gestante, à criança, controle da hanseníase e da tuberculose, vacinação, etc. Em meados de 1972, após 14 de efetivo exercício na Secretaria da Saúde, pode gozar seis meses de licença prêmio. Viajou então para os Estados Unidos e Europa. Em Washington passou uma semana. Em Nova York permaneceu por cinco meses, tendo a oportunidade de visitar vários serviços de saúde. Em outubro viajou para a Europa, tendo visitado várias cidades da Espanha e Portugal. Retornou para os Estados Unidos e no início de 1973, retomou suas atividades em São João da Boa Vista. Durante o ano de 1975 quando houve a epidemia de meningite meningocócica, participou das campanhas de vacinação como assessora do coordenador nas seguintes regiões e datas: Campinas, no mês de maio; Ribeirão Preto, no mês de junho; Sorocaba, nos meses de junho e julho; Bauru e Marília, no mês de julho; Presidente Prudente, Araçatuba e São José do Rio Preto, no mês de agosto. Participou também, na coordenação local, nas ações da vacinação nacional contra a poliomielite nos anos de 73 a 87. De 1976 a 1978 trabalhou no Distrito Sanitário de Jundiaí. Em maio de 1978 passou a exercer o cargo de diretora técnica do Distrito Sanitário Nossa Senhora do Ó, em São Paulo. No ano seguinte transferiu-se para o Distrito de Tucuruvi, também em São Paulo como assistente técnica de direção. No ano 1988, após trinta anos e seis meses de serviço para a Secretaria de Saúde, aposentou-se no dia 29 de agosto.
Não se casou e não deixou descendentes, no entanto, criou e teve para com uma de suas sobrinhas uma relação maternal. Em 1971, adotou Rita de Cássia, a filha de seu sobrinho Aparecido Antônio Lourenço Aversi e de Valdinete Batista dos Santos Aversi, que teve a atenção e cuidados dispensados a uma filha. Rita de Cássia dos Santos Aversi Gatto, casou-se com Carlos Antônio Gatto.
Em um dia Dra. Maria Gomes foi informada que uma paciente a estava procurando. Foi então em direção ao local onde a mesma se encontrava e, grande foi sua surpresa, ao ver que a paciente estava com uma hemorragia uterina. Tratou rapidamente de atendê-la e ao verificar que se tratava de um caso grave de gravidez tubária (quando o feto se desenvolve fora da cavidade uterina, neste caso na trompa), passou a tomar as medidas necessárias. Entrou em contato com o colega Dr. Francisco Maríngolo, e encaminhou-a para a Santa Casa de Misericórdia “Dona Carolina Malheiros” onde foi prontamente atendida e submetida a tratamento cirúrgico. O que a surpreendeu, e ao mesmo tempo a deixou honrada, foi saber que a paciente era de Casa Branca e tinha viajado daquele município em direção à São João da Boa Vista, mesmo apresentando grave sangramento, pois fazia questão absoluta de ser atendida por ela.
Rodrigo Rossi Falconi Médico e Membro-fundador da Sociedade Brasileira de História da Medicina
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