pagu

(biografia)

 

1931. Pagu e Oswald editam o Jornal HOMEM DO POVO.

Oswald e Pagu passaram a editar o jornal O HOMEM DO POVO, a tribuna para os seus disparos irreverentes. Imprensa nanica que utilizava-se de uma linguagem ferina e bem humorada, tratando com humor e sem piedade, temas e pessoas evidentes no cenário político, religioso e social. Este pasquim teve uma vida curta, de apenas oito edições. Pagu colaborava com cartoons, tiras de humor, opinava nas revoluções gráficas e assinava a coluna A MULHER DO POVO, onde exercitava a polêmica, utilizando como pano de fundo pensamento marxista, como na 1ª edição de 17 de março de 1931, quando escreveu o artigo Maltus Além, trocadilho com Matusalém, o ancião da Bíblia e as pregações celibatárias do pastor Maltus. Pagu criticava, no artigo, o feminismo em nome do materialismo histórico e defendia a vinculação das reivindicações feministas a uma transformação global das relações sociais, já que eram as condições mentais e materiais da sociedade que vinculavam a figura da mulher a uma suposta inferioridade. A irreverência de O HOMEM DO POVO foi a responsável pelo seu próprio, fim. Oswald, ex-aluno da Escola de Direito do Largo de São Francisco, em artigo, denominou esta tradicional instituição de ensino como um “cancro que mina o nosso estado”. Após esta declaração, os estudantes empastelaram o jornal.

 

Em Santos, Pagu é presa pela primeira vez

 

 

 

 

 

 

 

1933. Lançamento do livro Parque Industrial

Em janeiro de 1933, Pagu lança seu primeiro romance: "Parque Industrial, com pseudônimo de Mara Lobo por exigência do Partido e financiado por Oswald. Seu livro é reconhecido pela crítica como o primeiro romance proletário do Brasil. O cenário: os bairros do Brás e Belém na década de 30. O romance de Mara Lobo é um panfleto admirável de observações e de probabilidades. O seguinte período define o espírito do livro: “Pelas cem ruas do Brás a longa fila matinal dos filhos naturais da sociedade. Filhos naturais porque se distinguem dos outros que tem tido heranças fartas e comodidade de tudo na vida. A burguesia tem sempre filhos legítimos. Mesmo que as esposas virtuosas sejam adulteras...”. Há nessas linhas algumas pitadas de verdade. E por isso, sem ser integralmente verdadeiro, o romance de Pagu é uma mentira entre as da convenção social.

 

A jornalista

 

 

 

 

 

Sementes de soja

Conta Raul Bopp: “Pagu, numa viagem ao Oriente, fez relações de amizade com Mme. Takahashi, de nacionalidade francesa, casada com o Diretor da South Manchurian Railway (verdadeira potência dentro do novo Império manchu, criado sob a égide do Japão). Com a influência de sua amiga, Pagu tinha fácil acesso ao Palácio de Hsingking. Conversava informalmente com o jovem imperador Puhy. Ambos pedalavam as bicicletas, dentro do parque amuralhado da residência Imperial.quando, numa das suas viagens a Cobe, Pagu me narrou o ambiente de familiaridade que existia em Hsingking, pedi que ela procurasse arranjar com puhy algumas sementes selecionadas de feijão-soja. Depois de algumas semanas, foram entregues no Consulado, precedentes da Manchúria, 19 saquinhos de sementes dessa leguminosa, que foram enviadas ao Embaixador Alencastro Guimarães, oficial do gabinete do Ministro das Relações Exteriores, Dr.Afrânio de Mello Franco. Esse diplomata, sem perda de tempo, enviou-as ao Ministro da Agricultura de aclimatação, em São Paulo.”

 

Poema para Pagu

O apelido Pagu foi dado por Raul Bopp,teria mostrado a Raul alguns poemas e, na mesma ocasião, o poeta sugeriu que ela adotasse um “nome de guerra” literário. Sugeriu Pagu, brincando com as sílabas do nome da escritora, que Bopp equivocadamente acreditava se chamar Patrícia Goulart.

CÔCO DE PAGU
(Raul Bopp)

Pagu tem os olhos moles
uns olhos de fazer doer.
Bate-coco quando passa.
Coração pega a bater.

Eh Pagu eh!
Dói porque é bom de fazer doer.

Passa e me puxa com os olhos
provocantissimamente.
Mexe-mexe bamboleia
pra mexer com toda gente.

Eh Pagu eh!
Dói porque é bom de fazer doer.

Toda a gente fica olhando
o seu corpinho de vai-e-vem
umbilical e molengo
de não-sei-o-que-é-que-tem.

Eh Pagu eh!
Dói porque é bom de fazer doer.

Quero porque te quero.
Nas formas do bem-querer.
Querzinho de ficar junto
que é bom de fazer doer.

Eh Pagu eh!
Dói porque é bom de fazer doer.

 

 

 

 

(1910-1930)     (1931-1935)     (1936-1962)     (cronologia)    (bibliografia)    (pagu em são joão)

 

Em agosto de 1931, como militante comunista, Pagu participa do comício do Partido e dos estivadores em Santos, na Praça da República. Escolhida como principal oradora, ela é agarrada por policiais, que tentam amordaçá-la. O estivador negro Herculano de Souza vai em sua defesa, é baleado e ela levanta do chão sua cabeça ensangüentada. Ele morre em seu colo. Pagu é presa e levada ao cárcere 3, na Praça dos Andradas, considerada a “pior cadeia do continente”, onde permanece duas semanas. Transforma-se assim na primeira mulher presa no Brasil por militância política.

 

Pagu, sentia-se  pelas transformações mundiais. E é como repórter itinerante, credenciadas pelos jornais: Correio da Manhã, Diário da Noite e Diários Associados que parte para a Ásia e Europa. “Seu projeto era atravessar a China e chegar à fronteira da Sibéria”, escreve Geraldo Ferraz. Em 1933 quando passa pela União Soviética, se desencanta com a Revolução Russa. Ela conta sua decepção com o Partido Comunista: “O ideal ruiu, na Rússia, diante da infância miserável das sarjetas. Em Moscou, hotéis de luxo para os altos burocratas... Na rua, as crianças mortas de fome: era o regime comunista”. De Moscou vai a Paris, em 1934. Torna-se amiga dos surrealistas Breton, Grevel, Peret. Discute os conceitos de arte revolucionária e o papel do intelectual, às vésperas do Congresso de Escritores de 35, que determinaria a adesão de muitos ao realismo socialista e o rompimento dos surrealistas com o PC soviético. Presa várias vezes em manifestações de rua, é repatriada em 1935.

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