pagu

(em são joão)

A FAMOSA PAGU

 

"A história que passo a narrar não tem nada de extraordinário e nem tampouco tem a ver com a vida de sofrimentos de Patrícia Rehder Galvão, a FAMOSA PAGU. São fatos acontecidos no nosso tempo de criança. São fatos que acontecem na vida. Quando poderia imaginar que uma criatura que carreguei nos braços, com apenas três anos, se tornaria uma famosa jornalista e escritora do Brasil?. Patrícia casou-se aos 19 anos de idade com Waldemar Belizário, no cartório de Vila Mariana (São Paulo), dia 29 de setembro de 1929, livro de casamento nº 20 fls. 119 / 120 vs.

Patrícia sofreu muito. Acompanhei pelos jornais e rádio com bastante tristeza, sua vida de sofrimentos. Ela faleceu na cidade de Santos em dezembro de 1962, com 52 anos de idade. Patrícia, a famosa PAGU, nasceu na cidade de São João da Boa Vista, no dia 14 de junho de 1910 às 2 horas da tarde, na casa nº 21 da antiga Rua: São João (hoje Getúlio Vargas). A casa onde nasceu Patrícia embora construída de taipa e barro sovado, era sólida e de boa aparência. Depois de reconstruída, o Sr. Antônio Balestrin passou a residir ali com a família, instalando nela inclusive, sua fábrica de móveis. Atualmente, reside nesta casa o Sr. Antônio Balestrin Neto, o popular Tonhão (hoje –2010 - no local funciona um estacionamento). Patrícia era filha do Dr. Thiers Galvão de França, advogado e jornalista e de Adélia Rehder Galvão, filha da tradicional família Rehder de nossa cidade. Eram seus avós paternos Joaquim Galvão Freire de França e Guilhermina Galvão e avós maternos Germano Rehder Sobrinho e Ordália Aguiar Rehder. Dr. Thiers e D. Adélia casaram-se em 1902, ele com 28 e ela com 18 anos. Dessa união, nasceram 4 filhos: Conceição, Homero, Patrícia e Sidéria. A última nasceu em São Paulo e não cheguei a conhecê-la.

O avô paterno, Sr. Joaquim Galvão, casou-se em segundas núpcias com Maria Antônia Amaral, irmã do Capitão Procópio do Amaral Pinto.
Dr. Thiers era freguês de meu pai nas compras de cereais, e a entrega das mercadorias era feita por meu intermédio. Essa era razão do meu convívio com a família Galvão de França e os três filhos. Além Dr. Thiers Galvão, atendia outros franceses, todos residentes no centro da cidade, entres eles Antônio Balestrin, José de Rosa, Paschoal Fiore, Braz Filizola, João Montanini, irmãos Chico e Pepino Filardi, Bortolo Sinegali e Jeronymo Sottano. Na ocasião de entrega de
mercadorias a família do Dr. Thiers, na porta era atendido pela D. Adélia ou pela cozinheira Camila. Dona Adélia, embora muita enérgica, era uma senhora de grandes virtudes, muito simpática. No momento de abria a porta costumava convidar: “Entra, Freitinha, coloca o frango na gaiola e entrega as mercadorias para a Camila”.

Camila, uma morena cor de cuia, era ótima cozinheira e muito estimada pela família Galvão de França. Camila era natural de Angola (África) e falava um ótimo português. Tinha por hábito mascar fumo, às escondidas de D. Adélia. Após a entrega das mercadorias, eu permanecia na sala, arrumada com mobílias estilo austríaco, em companhia dos três filhos Conceição, Homero e Patrícia. Com permissão de D. Adélia, eu costumava sair com a garota Patrícia em meus braços para comprar doce na casa comercial do Sr. José Del Nero, que era anexa a residência dos Galvão de França. O doce preferido era a bolacha preta que custava um nível de 400 réis. O Sr. Del Nero era casado com Lelica, filha de D. Maria Antônia do Amaral, pertencia à tradicional família Del Nero, de empresários e industriais da cidade de Pirassununga. O Dr. Thiers e a família mudaram-se para a capital do estado em 1913 ou 1914. Seus pais permaneceram em São João.

Em 1916, o Sr.Joaquim Galvão de França vendeu ao Sr. Antônio Balestrin a sua propriedade pelo preço de 8.000$000 (oito contos de réis), escritura lavrada no Cartório do 1º Ofício, Tabelião Pedro de Oliveira Westin, livro nº 77, fls.52 e 53 vs. Após a venda de sua propriedade, o Sr.Joaquim Galvão e sua esposa passaram a residir à rua Benjamim Constant, defronte a atual Igreja Presbiteriana, onde o filho, Dr. Thiers, instalou em 1906 seu escritório de advocacia. Esta casa pertence “atualmente” aos filhos do Dr. Geraldo Pradella. Com a mudança do Dr. Thiers e família para a capital do estudo, nunca mais vi a garota Patrícia. No entanto, por uma causalidade, acabei encontrando-a certa vez na livraria Teixeira à rua Dom José de Barros, próxima ao Cine Ópera. Estava nessa livraria da capital para atender a solicitação dos meus freguês Dr. João Batista Boa Vista. Ele me pediu para comprar um exemplar do livro “Kama Sutra”. No momento em que aguardava para ser atendido, notei que o auxiliar da livraria estava atendendo naquele momento uma jovem e para extrair a nota fiscal pediu seu nome, “Patrícia Rehder Galvão”, respondeu ela. Quando ouvi aquele nome, confesso que levei um choque. Emocionado perguntei: “Desculpe a curiosidade, senhorita, você é a filha do Dr. Thiers Galvão da França?”, “Sim”, respondeu ela assustada. “Por que, o senhor me conhece?”, “muito”, respondi. “somos nascidos na mesma cidade, São João da Boa Vista. Você, com a idade de 3 anos esteve muitas vezes em meus braços”. Patrícia, bastante nervosa, fazia perguntas e para satisfazê-la, comecei a contar fatos ocorridos em nosso tempo de criança. Após uma hora de bate-papo, ela pediu licença para se retirar, mas antes me apresentou, uma professora da Escola Normal do Brás.

Com o passar dos anos, Patrícia Rehder Galvão, mulher corajosa que era apesar de sofrer muito, continuava a defender o seu ideal comunista. Escritora e jornalista famosa, participou do Movimento Modernista da cidade de São Paulo. Aqui termina a história do meu convívio com a família Galvão de França e os seus três filhos Conceição, Homero e Patrícia. Após uma vida de sofrimentos, Patrícia, a FAMOSA PAGU, falece na cidade de Santos, em dezembro de 1962, aos 52 anos de idade.

Que Deus a conserve em paz!"

Texto extraído do documento feito pelo Sr. Luis de Freitas
ANO – 1980 - São João da Boa Vista

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