maria sguassábia (biografia) |
Stela Rosa Sguassábia
Este é o verdadeiro nome de Maria – que nasceu em Araraquara-SP, em 12 de março de 1889. Filha de José Sguassábia e Palpello Clotildes. Quando tinha 3 anos, a família mudou-se para São João da Boa Vista. Nessa cidade casou-se com José Pinto de Andrade em 22 de abril de 1922. Ficou viúva quando estava no 5º mês de gravidez de sua única filha Maria José. Esta nasceu em 29 de janeiro de 1923. Maria José casou-se com João Marsiglia em 15 de janeiro de 1942. Tiveram 2 filhos: Mauricio e Henrique.
Seu pai, italiano, decidiu que sua filha se chamaria Stela Rosa, pois era branca como uma estrela e bela como uma rosa. Na pia batismal o padre recusou chamar a menina de Stela Rosa e acrescentou Maria em seu nome. E assim, tornou-se conhecida como Maria Sguassábia. Era professora primária.
Foi neste cenário de muita insegurança, que Maria via levas e levas de soldados transitando pela estrada rumo a fronteira. A casa-grande da fazenda Paulicéia foi transformada em Posto de Comando da 4ª Companhia de 1º Batalhão Paulista da Milícia Civil. Seus irmãos Primo e Antonio haviam alistado como voluntários. Antonio estava com ela na fazenda; Primo tinha ido para a fronteira entre São Paulo e Paraná. Maria teve notícias de que seu irmão Primo seguira para a linha de fogo. Poucos dias depois, recebia a comunicação da sua morte em combate.
Início dos combates
Da janela, Maria avistava a sentinela da porteira. Sua função era vigiar a estrada que demandava a fronteira entre Minas Gerais e São Paulo, onde se concentravam tropas inimigas. Sua tarefa era não deixar ninguém passar sem identificação. À noite, a porteira deveria ser amarrada com arame farpado. Um soldado fora requisitado para vigiá-la. Era um verdadeiro “palerma” segundo Maria, pois limitava-se a ficar ali, parado, sem levantar os olhos e aparando intermináveis pedacinhos de madeira, com o canivete. De onde ela estava via gente transitar livremente, enquanto o soldado... apenas suspendia os olhos do canivete. É um relapso, pensou ela.
A cidade de São João da Boa Vista não ficou à margem do movimento revolucionário. A população participou ativamente dos comícios nas praças públicas e muitos oradores foram ovacionados, pois suas palavras iam de encontro ao sentimento de todos. A imprensa local exortava o espírito guerreiro dos sanjoanenses, com artigos vibrantes e sugestivos, esclarecendo e orientando sobre os acontecimentos na capital. Os jovens, empolgados pelo curso dos acontecimentos, começaram a procurar os postos de alistamentos, oferecendo-se para colaborar com tão nobre causa.
Juramento do Soldado Constitucional
"Juro, pelo amor que tenho á minha mãe, pelo nome que tenho do meu pae; juro pela minha dignidade de homem; juro por Deus, que luctarei até o fim, por São Paulo, pelo Brasil, pela nossa Bandeira! Juro!".
A apreensão era grande e a população não teve mais sossego. Ninguém conseguia ter uma vida normal com seus afazeres. Só pensavam no que ia acontecer com a Revolução. Familiares dos soldados e curiosos ficavam horas em frente ao grupo Escolar, esperando ter notícias. Caminhões carregados de víveres ou soldados atravessam a cidade, muito rápidos, deixando a população apavorada. O que não faltava eram os boatos. E nesse clima de confusão e pavor, chegou o Tenente Mário Meira, com um caminhão carregado de armas e munições. A maioria delas em péssimo estado de uso. Armas velhas e fora de uso, que foram encontradas num porão na cidade de São Carlos.
Combate no bairro da Cascata
Após o ataque da tropa ditatorial em Poços de Calda, tornou-se urgente a proteção nas divisas de Andradas, pois segundo informações, os inimigos já se encontravam ali concentrados. A 4ª Cia. Benedito Araújo, do 1º Batalhão P. Milícia Civil, achava-se em meiados de julho de 1932, nas fronteiras paulista, estendidas em uma frente de cerca de dois quilômetros, guardando as estradas – Andradas/São João da Boa Vista e Santo Antonio do Jardim/São João da Boa Vista. O P.C. da Cia. estava localizado nas imediações da Fazenda Paulicéia, onde se encontrava um grupo de combate, sob o comando do sargento Christovan Resende. O batalhão recebeu ordens para seguir para a fazenda, que requisitada pelos oficiais tornou-se Q.G do 1º Batalhão.. Os soldados que ali se encontravam preparavam o terreno e encontravam-se sujos e barbudos, quando para alegria geral chegou o caminhão que trazia os novos combatentes, ainda com as fardas novas limpas. O comandante do setor era veio receber os novos combatentes e apresentou a todos o alojamento e o local que serviria de cela os soldados rebeldes – o galinheiro. Para surpresa geral o jantar foi um verdadeiro banquete, pois ali havia um exímio cozinheiro que encontrou à sua disposição, muitos frangos para o abate. Logo após o jantar, o comandante comunicou seus planos de ataque e a responsabilidade daquele setor, já que o inimigo encontrava-se a poucos quilômetros de distância, à espreita. Como os cães latiam muito e com o grande medo de serem atacados enquanto dormiam, foram designado 12 homens para a sentinela. No meio da noite, a tropa foi acordada e chamada às armas, pois foi ouvido um barulho estranho e poderia ser o inimigo aproximando-se.
Tiroteio na madrugada
Maria morava numa modesta casa, onde a Câmara Sanjoanense mantinha uma escola, e ela era a professora. Ali residia, em companhia de sua filhinha Maria José e um irmão moço, Antonio que havia se alistado como voluntário da 4ª. Companhia. Diariamente, ela preparava para Antonio e os soldados de seu grupo, o alimento necessário, tornando-se então a cozinheira de todos eles. Chegando à janela, viu um soldado, que estava de sentinela numa elevação próxima, passar correndo e atirar o fuzil junto à sua casa. A indignação de Maria não teve limites. Se pudesse, alcançaria o patife e lhe daria umas bofetadas. Mas não teve tempo de refletir sobre o ato de covardia da sentinela. Até aquele momento, a guerra lhe parecia uma briga particular entre políticos de São Paulo e do Rio. Seu irmão Antonio, instalado com o batalhão, nas imediações da fazenda, tinha liberdade de visitá-la freqüentemente, e assim, o conflito lhe parecia muito doméstico, pois conhecia também a maioria dos soldados ali alojados.
No escuro, ninguém percebeu a manobra. Acabou acomodando-se ao lado do irmão Antonio e bateu-lhe nas costas: Ele pensando que fosse um companheiro, não ligou. Mas quando a viu, ficou apavorado. Sua vontade era jogá-la pra fora do caminhão. Muito pálido, Antonio puxou-a para junto de si e baixinho intimou-a à descer: - Já, já, desce! Isto não é coisa pra mulher. Disse-lhe que estava louca, onde já se vira uma mulher no meio de soldados, armada como se fosse um homem. Ela estava decidida e não houve jeito. Maria permaneceu firme. É a mais velha. Está com 33 anos. Se os irmãos se metem numa briga que ela não pode apartar, briga também ao lado deles, pronto! Antonio passa da fúria à súplica. Em vão. Os outros soldados na confusão da partida, nem notaram a sua presença. Diariamente ouvia falar em traições, deserções, em atrocidades cometidas pelos ditatoriais. No quartel mesmo, soubera de casos espantosos de covardia e negligência.
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Maria e a Revolução
Pelo rádio Maria ouvia as notícias sobre a revolução. Um medo muito grande tomou conta dos moradores das fazendas da região. Ninguém sabia ao certo o que estava acontecendo. A maioria das famílias de colonos, foram recolhidas pelos fazendeiros e durante a fase de perigo habitaram os porões das casas-grandes, que por terem paredes de pedra, parecia ser o local mais seguro. As crianças não podiam brincar nos terreiros, nem freqüentar as escolas. O pavor dominava a todos. Homens e mulheres, reunidos, rezavam dia e noite.
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A tropa estava reunida no Grupo Escolar Joaquim José
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Na fazenda, os soldados recebem ordens para seguirem para as trincheiras Antonio aparece na fazenda para dizer-lhe que iam avançar. Maria teve um sobressalto. Fica aturdida e traça um plano. Correu à casa-grande e pediu ao administrador, que se preparava para partir rumo a São João com as mulheres e crianças da fazenda, para levar sua filhinha e deixá-la aos cuidados de seus familiares que residiam em São João da Boa Vista. Voltou à escola, examinou o fuzil abandonado pelo desertor. E nesse instante, decidiu: Primo estava morto; não abandonaria Antonio. Acontecesse o que acontecesse, ia com ele. Apanhou, na capoeira, o fuzil do desertor, vestiu a farda que o irmão lhe dera para lavar, calçou meias pretas em lugar das perneiras. Estava decidida a "comprar a briga" . Esperou anoitecer. Quando o último caminhão passou rente à escola, correu atrás e subiu, conseguindo pegar a "rabeira". |
Maria, uma amiga e a Filhinha Maria José |
A noite, deveria amarrá-la solidamente ao batente com fios de arame farpado. Isso também ele não fazia. Pelos seus movimentos, Maria adivinhava que o homem queria agradar os revolucionários, mas tinha medo de desagradar os ditatoriais. Queria ficar em posição eqüidistante, cômoda, fácil de bandear numa emergência qualquer. E isso a indignava. Enquanto outros moços, e os seus irmãos entre eles, se sacrificavam na linha de fogo, aquele banana não se mexia! Resolveu, pois, amarrar a porteira todas as noites. Resolveu também que não dormiria mais: ficaria na janela observando os movimentos da estrada, a fim de dar alarme se fosse necessário. Por isso fazia corpo mole quando o administrador falava em evacuar a fazenda.
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Grupo Escolar Joaquim José |
Tropa aquartelada no Grupo Escolar Joaquim José |
VOLTA SEGUE |
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